Alexandre Tatagiba
Psicanalista
Nos dias 01 a 08 de fevereiro comemoramos a Semana Nacional de Prevenção da gravidez na adolescência. O real objetivo desta comemoração é debatermos sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência, pois o Brasil apresenta altos índices.
Dentre os países latino-americanos, o Brasil tem a maior taxa de mães que dão à luz na adolescência. Em 2018, foram 434 mil adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos. Logo, questionamos: em pleno século XXI, podemos falar em jovens que não têm informação sobre sexualidade?
Segundo o IBGE, a baixa escolaridade parece ser um eixo comum entre estas meninas mães, pois, até mesmo pela sua idade, geralmente elas não terminaram ainda o ensino fundamental ou o médio. Logo é de suma importância que discutamos com adolescentes temas como:
- Sexualidade;
- Autonomia e responsabilidade (analisar o momento em que os adolescentes estão preparados física e psicologicamente para seu primeiro ato sexual);
- Sexo seguro e outras prevenções;
- Conhecimento sobre seu corpo.
Interessante considerarmos a etiologia da palavra”adolescente”. Ado vem do latim “para” e olescer vem de “crescer”, ou seja, essa fase é marcada por um processo de crescimento, desenvolvimento.
A adolescência é um período de construção de identidade diante de novas possibilidades de ser no mundo. Neste período, o pensamento da criança vai se transformando para o de um adulto, tornando-se capaz de assumir responsabilidades, aceitar normas, exprimir interesses e desejos.
Quem nunca ouviu ou já associou a gravidez a algo patológico ou como um problema? Pensando de um ponto de vista psicanalítico, será que a jovem inconscientemente acredita que precisa ser punida com uma gravidez por ter tido relações sexuais e depois ser abandonada pelo parceiro?
Winnicott, pediatra psicanalista inglês, aborda a temática da adolescência como uma transformação ligada a impulsos sexuais, que oscila entre a dependência e a autonomia, momento em que se busca por uma identidade pessoal, ser real neste mundo. Para este autor, crescer significa ocupar o lugar de um adulto (pai ou mãe).
Pode-se pensar que a maneira pela qual uma mulher exerce seu papel materno e o homem exerce a paternidade esteja relacionada às vivências que ambos tiveram como filhos e quais cuidados receberam. Então, a construção da paternidade e maternidade também pode ser entendida a partir das identificações que o menino realiza com o pai (ou quem fez a função de pai) e a menina realiza com a mãe (ou quem fez a função de mãe).
Winnicott afirma que “Na fantasia inconsciente, crescer é inerentemente um ato agressivo” (1975, p.195). O adolescente precisa lidar com a dor de luto de um corpo que se foi e se adaptar a uma nova realidade e a um mundo que fará novas exigências. Ele tende a buscar uma identidade pessoal e a necessidade de se sentir real, de existir, de ser aceito.
A partir dos 12 anos o adolescente entra em conflito, pois “abandona” o corpo de criança para se tornar um adulto que significa entre muitas coisas fazer escolhas, pois os pais já não podem mais decidir por ela. Há o conflito emocional também, pois, como “adulto” não pode chorar, ter raiva, sentir tristeza como uma criança, sendo essas algumas das cobranças sociais que o adolescente passa a lidar.
Conforme Erick Erikson (1998), o adolescente precisa de uma segurança para atravessar essas mudanças e ter respostas para seus questionamentos como: quem sou eu? Quais são meus desejos? Preciso ser iguais aos meus pais? E buscará se encaixar nos grupos sociais que melhor lhe representar. O que Erikson (1976) chamou de Identidade versus confusão de identidade.
Winnicott enfatiza a importância de um ambiente facilitador para estes adolescentes. Logo, precisamos perguntar sobre este ambiente:
- Como pais e educadores, estão lidando com a sexualidade, ainda é um “tabu” falar sobre isto?
- Quantos pais são capazes de compartilhar as responsabilidades de uma gravidez precoce?
Diante destas reflexões, vemos a importância de o adolescente estar atento quanto às consequências de uma vida sexual ativa sem, no entanto, que sua sexualidade e seu desejo sejam anulados ou coibidos.
Referência bibliográfica
ERIKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar. 1976.
____. Infância e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar. 1998.
WINNICOTT D. W. Raízes da Agressão. In. D. W. Winnicott. Privação e Delinquência. Martins Fontes. 1995.
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