A diferença entre Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia

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Elizandra Souza
Psicanalista

Apesar de Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia iniciarem com o mesmo radical ‘psi’, essas três áreas do conhecimento são diferentes, tanto no quesito formação, como com relação à atuação profissional.

A Psiquiatria é uma especialização da medicina, ou seja, para tornar-se um psiquiatra é necessário fazer faculdade de medicina e depois especialização/residência em Psiquiatria. Por ter feito a faculdade de medicina, o psiquiatra é o único, entre esses profissionais, que pode medicar.

Para se tornar psicólogo deve-se fazer graduação em Psicologia. Na faculdade de psicologia, o futuro psicólogo entra em contato com diversos caminhos possíveis desta modalidade, como exemplo, psicologia clínica, educacional, jurídica, esportiva, hospitalar, etc. Ainda dentro da área clínica – onde o psicólogo atende pessoas em consultório e é a mais conhecida no senso comum – existem várias abordagens, como exemplo, cognitiva, comportamental, fenomenológica, psicanalítica, entre outras.

A Psicanálise tem teoria, método e técnica próprios. Não há necessidade de formação em Psiquiatria ou Psicologia para tornar-se psicanalista. Mas é importante ter um curso superior. O psicanalista se forma, principalmente, no divã, ou seja, precisa ter feito análise. Para tornar-se psicanalista é necessário passar por um tripé de formação, que inclui o estudo teórico, a análise pessoal e a supervisão. Como afirmou Freud:

“Enumero como um dos muitos méritos da escola de análise de Zurique terem eles dado ênfase aumentada a este requisito, e terem-no corporificado na exigência de que todos que desejem efetuar análises em outras pessoas terão primeiramente de ser analisados por alguém com conhecimento técnico”. (Freud, 1996 [1914] p. 130)

A Psicanálise não é especialização da Psicologia ou da Psiquiatria, pois seu estudo e formação são próprios e podem ser estruturados como numa escola ou não. Cada instituto de formação em Psicanálise pode ter um tipo de formação. Em função disso, afirmamos que não é um diploma ou certificado que autoriza uma pessoa a se dizer psicanalista, mas decorre de todo um processo em que o desejo de analista emerge.

O trabalho do psicanalista tem como campo o inconsciente, o sujeito do inconsciente, vislumbrando assim o reconhecimento da posição do sujeito frente àquilo que reclama. Na concepção de Freud, a Psicanálise não usa outro expediente senão a fala e a escuta (Freud, 1996 [1914]). O psicanalista não precisa de outros instrumentos para que uma análise aconteça, contudo, não é porque há um sujeito falando que a análise está acontecendo. Análise não é conversa, simplesmente. A escuta do analista é embasada teórica e tecnicamente para que a análise tenha efeito, a partir de pontuações e intervenções que impliquem o sujeito e o coloque diante daquilo que reclama. O campo da Psicanálise é o inconsciente e é necessário que o analista tenha conhecimento suficiente para reconhecer suas manifestações. Na Psicanálise não existe opinião do analista, adivinhação, nem doutrinação, bem como não cabe construção de objetivo ou meta a ser cumprida. Não se faz planejamento.

A fala do sujeito deve seguir sua lógica, portanto, pouco importa a ordem cronológica com que as coisas são apresentadas. Na Psicanálise, o sujeito fala de sua ‘verdade’, independente de serem factuais ou não. Por isso, o psicanalista não deve fazer julgamentos, tanto quanto não deve se achar o advogado do paciente, que o defende acima de tudo.

Referências bibliográficas:
FREUD, Sigmund. Artigos sobre a técnica [1914]. In: FREUD, Sigmund. O caso Schreber, Artigos sobre a técnica e outras trabalhos (1911-1913). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 93-190p.

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