Ser certinha – a prisão de ser o desejo do outro

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Rita Dianin
Psicanalista

Por que chegar sempre no horário? Por que não poder cometer um erro? Por que ter que transmitir uma imagem impecável?

Como é cansativo ser certinha! Por que isso ocorre?

O desejo de ser perfeito pode estar relacionado ao falso-self, conceito teorizado por Winnicott (apud ZIMERMAN, 2010), em que a criança numa necessidade de agradar de qualquer maneira, reconhece o desejo da mãe em relação a ela, e a partir daí, constrói uma identidade que não condiz com a sua essência.

Pode-se supor simplesmente que queira fazer tudo certo para que a mãe não se decepcione ou para que o pai seja menos agressivo, como possivelmente ele fica quando ela erra.

Posteriormente, essa criança cresce e se transforma num adulto que quer agradar a todos o tempo todo. Preso numa cela que é envolta do desejo de todas as pessoas com quem conviveu, pais, amigos, professores, chefes, marido, filhos, entre outros.

O psicanalista David E. Zimerman( 2008) ilustra essa situação com o caso de Sandra, uma analisanda “perfeita”. Ela era muito inteligente, bonita, polida e nunca faltava ou se atrasava, caso houvesse um raro imprevisto ela ligava avisando. Com o passar da análise ela começou a faltar progressivamente sem avisar.

O que gerou dúvidas no analista quanto ao seu atendimento. Posteriormente ele compreendeu que Sandra precisava experimentar uma falha. Ela não aguentava mais tamanha perfeição, além de precisar testar o analista para ver se ele não iria desistir de atendê-la mesmo se ela mostrasse seu lado feio e mau.

Com o passar do tempo ela voltou a ir a todas as sessões, sempre pontual e gentil. Porém a diferença é que no começo do seu tratamento ela fazia tudo certinho por obrigação e, depois foi por opção dela, para que pudesse aproveitar o seu investimento emocional e financeiro.

Zimerman mudou sua forma de atuar como analista a partir do aprendizado que teve nesse caso. E nos mostrou o seu verdadeiro desejo para seus pacientes: sejam livres e leais aos seus próprios desejos.

Caso tenha se identificado com a história de Sandra, e esteja cansada(o) de sempre precisar agradar ao outro, muitas vezes esquecendo de si, procure ajuda de um psicanalista credenciado para que você consiga ouvir seus próprios desejos.

 

Referência bibliográfica:

ZIMERMAN, David E. Os quatro vínculos – na psicanálise e em nossas vidas. Porto Alegre: Artmed, 2010

ZIMERMAN, David E. Vivências de um psicanalista. Porto Alegre: Artmed, 2008.

#DesejoDoOutro #Winnicott #Zimerman

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